
O que tem a ver a minha história com a do Presidente ?
Bom! Assistindo ao filme pude rever como fazemos parte realmente da história. Me reportei aos anos 80, quando meu pai foi preso como grevista, nessa época estava começando a entrar no mundo das letras e era uma criança contente e feliz, sempre me lembrava cantando o Hino da Bandeira em minha cidade natal de São Bernardo do Campo, mas não sabia o que era a ditadura, greve, mas já sabia sobre inflação, onde todos os dias ir ao supermercado era um martírio para minha mãe, pois os preços das mercadorias sempre custavam cada dia mais. E bem neste momento, é que a história se inicia.
Meu pai era um jovem com muita vontade de vencer vindo de uma família simples, seus pais e oito irmãos, onde uma das irmãs falecida. Saiu do interior de São Paulo, para capital a procura de oportunidade , para ter uma qualidade de vida e como seus pais viviam na roça, não tinha muitas chances.
Trabalhou em muitos lugares, serviço puxado, mas com vontade e determinação, terminou sua escola primária e ginásio, e depois fez técnico, onde começou a trabalhar em metalúrgica no grande ABC. Casou-se e como estava bem em sua profissão teve filhos onde eu era a primogênica e mais dois irmãos. Mas com as greves pelos metalúrgicos, tudo mudou em minha vida.
Num certo dia do ano 1980, meu pai iria trabalhar e sabendo dos conflitos pela greve, minha mãe orientou ele para não ir, mas não ouviu e foi pego pela polícia militar , e preso no Dops , junto com outros grevistas no mesmo período que Presidente Luís Inácio Lula da Silva, que antes somente Lula ao lado de sua cela, onde meu pai contou , ele sendo escoltado , pelos militares ao ver sua mãe, ser sepultada, e ao assistir o filme me recordei que meu pai estava naquele exato momento, fazendo parte da história e que no final do filme mostra Lula voltando e imaginando ele preso naquele momento. Dali em diante, minha história muda de rumo.
Meu pai é solto e consequentemente demitido por justa causa, tendo que logo se mudar junto com sua família e voltar para o interior, pois estava difícil a sobrevivencia no Grande ABC, a qualidade de vida decai, ficamos de favor em casa de parentes, ganhamos roupas usadas e grandes para usar, sapatos apertados que tinha para ir a escola.
Na cidadezinha a atual cidade do lobisomem Joanópolis, era tão pequena, tinha uma venda e parecia mais um boteco, mas a pobreza me mostrou o outro lado da vida, me fez conviver com pessoas deficientes e ver que são felizes, e junto ao meu pai experimentar o trabalhar na roça, cortar cebolinha, arrancar feijão do pé, abanar arroz, a tomar café com leite frio, arroz com feijão e ovo frito gelados na roça. A viver de forma humilde , visitar os doentes com vizinhos que tinha e ainda tem esse costume. Brincar de faz de conta , com barro, na chuva , de casinha, circo , restaurante, queimada, taco entre outras brincadeiras. Aprendi muito vivendo neste mundo cheio de simplicidade, amor e compaixão pelo irmão.
A pouco tempo atrás culpava muito da educação que meus pais , tinham dado para mim, hoje vejo que deram o melhor , depois de muito tempo com muito sacrifício e de minha família, fiz o magistério para ser professora, logo casei e me formei em História, que na verdade queria muito para dar aula para Geografia pois teria licenciatura curta, mas hoje vejo que não foi por acaso que me formei em História, e não tinha consciência que fazia parte dela.
Depois de muito tempo, vi que realmente fazer parte da história ser " sacrificada" uma vida por benefício do coletivo valeu a pena.
Sou realmente uma pessoa como dizem "difícil ", mas de certa forma vemos que aprendemos muito com o tempo e o que queremos é chegar em um acordo, lutar pela igualdade, ter direitos mediante ao diálogo, sempre vendo os dois lados . Acredito que não estou aqui a toa, já passei por uma terrível depressão e se estou aqui é para um bem comum, não querendo tomar nenhum partido, mas respeitar pontos de vista de todos e chegar a um resultado positivo.
Desde já muito obrigada!!!Historiadora - Cláudia Aparecida da Silva.
contato : prof_claudia@hotmail.com