O relatório de Novembro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela a contínua degradação da floresta amazónica em detrimento das grandes áreas agrícolas e pecuárias. A floresta brasileira corre o risco de diminuir nas imediações dos campos de cultivo, devido à falta de financiamento que poderia garantir métodos alternativos às queimadas, admitiu Homero Alves Pereira. O secretário de Desenvolvimento Rural e presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (Famato), no Brasil, disse que esta situação se deve aos métodos utilizados, em especial às queimadas (prática que utiliza o fogo de forma controlada), que continuam a ser uma das causas da desflorestação da mata e floresta brasileira.
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se nada for feito, milhares de hectares de floresta serão perdidos. Para já, é certo que a expansão da agricultura, em regiões próximas da floresta Amazónica, está a reflectir-se de uma forma acentuada no próprio meio ambiente.
O estudo do IBGE sobre o desenvolvimento sustentável no Brasil, divulgado este mês de Novembro, revelou que não só aumentou a utilização de fertilizantes, assim como cresceu a prática das queimadas e os incêndios florestais. Estes métodos são utilizados com frequência para transformar uma densa mancha verde nativa em áreas específicas para a agricultura e pecuária. De acordo com a IBGE, que recorreu aos dados recolhidos por satélite, só em 2003, foram detectados no Brasil 213 mil focos de incêndio. No referido relatório, o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, salientou que "a expansão da agricultura tem uma repercussão ambiental". Convém não esquecermos que a floresta é um recurso natural não-renovável.
Pereira Nunes alertou ainda que se nada for feito, "as regiões a sul e leste da Amazónia [ainda intacta], que compreendem hoje o que se chama de arco de desmatamento (...) podem ser a próxima fronteira a ser destruída", anunciou no relatório divulgado pela IBGE. No interior do Brasil existem inúmeros pequenos agricultores pobres e com fracos recursos cujo único meio de subsistência é a terra. Se não houver apoios financeiros, estes pequenos agricultores vão continuar a usar os mesmos métodos, ou seja, queimam áreas que pertencem à floresta, cultivam o terreno até este deixar de ser produtivo e voltam a recorrer às queimadas. O problema é que esta não é prática comum apenas dos pequenos agricultores; as grandes indústrias agrícolas não deixam de ter a sua cota parte de culpa.
De acordo com Homero Alves Pereira, o Brasil é um dos maiores exportadores de bens como o café, cana de açúcar, sumo de laranja, carne e "é de esperar que ultrapasse, nos próximos anos, os Estados Unidos no que respeita à exportação de feijão", declarou à Reuters. Aquele responsável não deixou ainda de observar: "toda a gente sabe qual é o grande negócio no Brasil: é o 'agronegócio'. A agricultura é o chamamento primário do país". E os dados estatísticos parecem justificar esta afirmação; a exportação de bens agrícolas produzidos nas grandes fazendas brasileiras representam 40 por cento do total das exportações do país.
Encontrar o 'meio termo' entre o desenvolvimento sustentável e a necessária produção agrícola continua a ser um desafio num país que apresenta a pior distribuição de riqueza do mundo. Enquanto as soluções não forem equacionadas, a marcha lenta da destruição do "pulmão da Terra" continuará.
Segundo o IBGE, a taxa de desflorestação da Amazónia apresenta valores altos, preocupantes, e não se tem verificado tendência para a sua diminuição. SO, 2004/11/14 |